Especies

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    • Miguel Serrano
      Frangula alnus, o sanguinho. Esta espécie está distribuida por toda Europa, atingindo polo norte a Escandinávia e polo leste zonas de Sibéria, chegando até a província de Xinjian Uyghur, no oeste túrquico da China. Presente também no Caucaso, na Turquia e no noroeste de África (montanhas de Marrocos e Argélia). Na península Ibérica é frequente no terço norte, mais raro para o sul, onde ocorre em zonas de montanha. No noroeste ibérico é muito abundante, típico arbusto de margem de carvalheira, ou dos clareiros na floresta. Também muito frequente em amiais riibeirinhos ou fazendo parte de sebes. Na Galiza e norte de Portugal estaria presente Frangula alnus subsp. alnus. Só no sul da península habitaria uma subespécie diferente, Frangula alnus subsp. baetica, principalmente nos ribeiros que baixam das encostas, orientadas aos ventos húmidos, das serras de Algeciras e do Algibe (Cádiz-Málaga), mas aparentemente também noutras zonas (embora não haja acordo, ver p. e. Flora Iberica http://goo.gl/Px0v4C) como a Serra de Monchique (ICNF http://goo.gl/bkgSAI) e a bacia do Júcar (CIEF http://www.cma.gva.es/webdoc/documento.ashx?id=168440). Esta subespécie também estaria presente no noroeste de África em habitats semelhantes, relictos dos paleobosques lauroides do Terciário, florestas sem giadas e com humidade relativamente constante, que antes do aparecimento do clima mediterrânico há uns 4 milhões de anos (com a sua seca estival) e muito especialmente das glaciações pleistocénicas nos últimos 2 milhões de anos, teriam abrangido uma área muito importante na Europa e na bacia mediterrânica. Os restos destas laurissilvas podem ver-se hoje nos arquipélagos da Macaronesia, e já muito depauperadas em número de espécies nalgumas poucas localidades Ibéricas e norteafricanas. Entre as espécies relictas que acompanham o Frangula alnus subsp. baetica temos o Rhododendron ponticum, a Campanula alata, a Culcita macrocarpa ou o Quercus canariensis, entre outras, para além do próprio loureiro. As principais diferenças entre a subespécie baetica e a típica são que a primeira tem tendência arborescente (até 15 m de altura) e as folhas são maiores e lanceoladas (com a máxima largura por debaixo da metade da folha) e com frequência não são caducas, durando dous anos, enquanto a subspécie típica tem tendência arbustiva (até 7 m. de altura) e folhas mais pequenas, de oblanceoladas a suborbiculares (semelhantes às do amierio) e caducas no outono. Estudando a filogeografia da espécie (Hampe et al., 2003: http://goo.gl/8yI8Ab) acharam uma elevada homogeneidade genética na maioria das populações da súa área de distribuição, indicando uma rápida colonização post-glacial. Em contraste, algumas zonas possuiam singularidade haplotípica, como os balcães, Caucaso-Anatólia, e para além de singularidade determinados territórios acumulavam uma importante variabilidade genética, como o noroeste de África e o extremo sul da península ibérica, populações amostradas onde os autores consideraram que estava a subsp. baetica. Um padrão genético típico de refúgio glacial. Contudo, chamou a atenção dos autores que na península ibérica também se detectava certa singularidade na metade ocidental do território, chegando polo norte até a Galiza, e até acharam haplotipos partilhados entre uma população da costa de Huelva (que eles interpretaram como subsp. baetica) e a população galega investigada (da Corunha). Não pareceu aos autores que um território tão nortenho pudesse albergar haplotipos “relictos”, polo que aventuraram possíveis traslados de plantas da Galiza a Huelva por via humana ... Porém, será que o noroeste ibérico não é tão “nortenho”? Que em determinados pontos de microclima saturado de humidade, protegidas das oscilações térmicas, ocorrem espécies consideradas relictas das laurissilvas é um facto: Prunus lusitanica, Culcita macrocarpa, Woodwardia radicans, etc.., o próprio rododendro atinge a Serra do Caranulo, não longe de Aveiro. Por outra parte, sanguinhos de folha estreitamente oval ou lanceolada (ainda que caduca) foram descritos como f. amydalifolia Welw. ex Cout. (Fl. Portugal: 396 (1913)), e Flora Iberica conta-nos que estas formas são achadas na Galiza, em Portugal e, interessantemente, em Huelva. Finalmente, acho que Frangula alnus é um táxone sublauroide, como denota a importante camada cérea da cuticula da faze, os aspecto lauriforme de muitas folhas, e com frequência com a ponta alongada, para favorecer a eliminação do excesso de água acumulada. Todas estas são características de denotam lucifília, que é uma outra forma de dizer laurofilia. Achamos na Galiza muitos exemplares de folha ovalada e relativamente estreita, de folha semicaduca, onde algumas caem no outono, e outras parecem permanecer durante o inverno. Poderiamos estar ante a expressão de genotipos relictos que se teriam conservado num refúgio ocidental ibérico, refúgio do que a Galiza e o norte português fariam parte?